Concluir os estudos nem sempre é uma tarefa fácil, muitas são as histórias de quem teve a trajetória escolar interrompida por motivos dos mais diversos: necessidade de ajudar no sustento da família, dificuldades em conciliar o horário das aulas com o trabalho, escassez de recursos financeiros, falta de apoio, a gravidez e a maternidade precoces, além de outros fatores. Porém, há quem veja nos obstáculos o incentivo para retornar a sala de aula e concretizar os sonhos adormecidos. É o que constatamos ao visitar as escolas da Rede Municipal de Niterói que oferecem a modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Conversando com os alunos ficamos sabendo da luta para obter o tão sonhado diploma, com o objetivo de conquistar melhores salários ou uma vaga na universidade. É difícil não se emocionar ouvindo a história de alguns deles.

Persistência é a palavra que define muito bem a cuidadora de idosos Vanderlea Silva. Nascida em Campina Grande, na Paraíba, ela abandonou a escola para ajudar a família, depois engravidou e não conseguiu retornar. Em busca de trabalho, veio para Niterói e, aconselhada por uma amiga, matriculou-se, em 2015, na Escola Municipal Maestro Heitor Villa-Lobos, na Ilha da Conceição. O esforço valeu a pena: este ano ela vai concluir o 9º ano do Ensino Fundamental.

“Nunca é tarde para recomeçar. Através do estudo vou realizar um sonho que tenho há muito tempo. Quero fazer o curso de Enfermagem, adquirir mais conhecimento e me especializar na minha profissão. Eu gosto muito de estudar e aprender coisas novas. O que também me deixa muito contente é que o meu filho também vai terminar o 9º ano”, diz Vanderlea.

Já na escola da Escola Municipal Helena Antipoff, em São Francisco, todos já ouviram falar na história de superação de Maria Aparecida Garcia, aluna do 4º ano. Conhecida como Cida do Salgado, ela é descendente de indígenas e nasceu na Aldeia Camboinhas, na Região Oceânica de Niterói. Vale destacar que até 2015, ela nunca tinha entrado em uma escola. Só que a vontade de aprender a ler e a escrever falou mais alto e ela conseguiu ser alfabetizada em apenas três meses. Por sugestão de uma professora, leu a biografia do ativista Nélson Mandela e apaixonou-se pela literatura.

“Comecei a estudar depois de tomar uma “volta” de uma sócia. Assinei um documento achando que era para receber um seguro. A partir dali decidi que nunca mais seria enganada. O próximo desafio é concluir os estudos e me especializar em salgadeira. Quero mostrar minha culinária para as pessoas”, conta Cida.

De acordo com a Diretora de Educação de Jovens e Adultos, professora Greyce Kelly, voltar a estudar é um direito garantido em lei e uma oportunidade de reconstruir o caminho em busca da realização pessoal e profissional.

“As matrículas na EJA, em Niterói, podem ser feitas em qualquer época do ano. O aluno deve ter mais de 15 anos e não ter concluído o Ensino Fundamental. Basta comparecer à unidade mais próxima e realizar a inscrição”, afirma Greyce.

As escolas que oferecem a modalidade são: E.M. Alberto Francisco Torres (Centro), E.M. Profª Maria de Lourdes Barbosa Santos (Fonseca), E.M. Paulo de Almeida Campos (Icaraí), E.M. João Brazil (Morro do Castro), E.M. Altivo Cesar (Barreto), E.M. Francisco Portugal Neves (Piratininga), E.M. Helena Antipoff (São Francisco), E.M. Maestro Heitor Villa-Lobos (Ilha da Conceição), E.M. Honorina de Carvalho (Pendotiba) e a UMEI Vale Feliz (Engenho do Mato).

Para fazer a matrícula são necessários os seguintes documentos: carteira de identidade, CPF, 3 fotos 3×4, comprovante de residência, certificado de reservista, declaração de escolaridade ou protocolo, declaração informando se o aluno possui alguma necessidade especial/ deficiência e comprovante de tipo sanguíneo e fator RH.