Professoras da Unidade Municipal de Educação Infantil de Municipal de Educação Infantil (UMEI) Hermógenes Reis, no bairro de Santa Bárbara, Zona Norte de Niterói, têm desenvolvido um trabalho de reconhecimento do samba como a matriz cultural da música popular e da africanidade. Dayse de Góes, Rosa de Araújo e Sônia Regina da Conceição estão entre as principais responsáveis por este projeto.

Apresentando os temas abordados em determinado samba-enredo, as professoras trabalham durante o ano letivo um conjunto de conteúdos que a música retrata. E esta não é uma forma de abandonar as cantigas de roda, mas uma maneira criativa de difundir assuntos que as crianças irão se deparar durante toda a sua formação, e que também serão importantes durante a sua vida adulta.

Para o secretário de Educação e presidente da Fundação Municipal de Educação, Bira Marques, trazer a cultura e a história do nosso país de forma lúdica e interativa, é essencial para a formação social das crianças, jovens e adolescentes.

“Nossos estudantes precisam conhecer as raízes do nosso país. E, sem dúvidas, aprender através de canções que retratam os mais diversos tempos da nossa história é enriquecedor. Esse formato diferenciado de ensino pode despertar nos alunos a curiosidade, e ajudar a construir suas diferentes visões de mundo e senso crítico”, pontuou.

A professora Dayse de Góes – que é também diretora de ala da escola de samba Acadêmicos do Cubango – iniciou a empreitada para ensinar às crianças o enredo das escolas e trazer para a realidade destas os ensinamentos que podem ser extraídos da música popular. Neste ano, a turma da professora trabalhou o samba-enredo da Portela de 2008, “Reconstruindo a Natureza, Recriando a Vida: o Sonho Vira Realidade”.

As crianças são partes ativas nesse processo de aprendizagem. Atualmente, a unidade escolar tem trabalhado a temática da sustentabilidade. Pensando nisso, foi escolhido um samba da Portela para desenvolver o projeto com os pequenos. A pequena Ester de Souza, de 5 anos, explica o que aprende em suas aulas:

“A gente aprendeu o samba, que fala do negro e do índio. A gente também aprende sobre o que é a natureza e o quilombo”, contou.

Para a professora Rosa de Araújo, que faz parte do projeto, o trabalho feito na UMEI reforça a identidade.

“Estamos trabalhando dentro de um mesmo enredo, uma grande quantidade de assuntos, além de estarmos trabalhando com algo que é muito próprio da cultura do Rio de Janeiro. Quando colocamos para tocar algum samba, já vemos aflorar nas crianças esta herança cultural”, destacou.

O projeto já rendeu frutos às crianças. No ano passado, a turma da professora Dayse trabalhou com um samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense, e eles puderam conhecer o barracão da escola, na Cidade do Samba, Zona Portuária do Rio de Janeiro. Dayse afirmou que a visita foi surpreendente para os profissionais e para os alunos.

“Os trabalhadores da escola, assim como o carnavalesco Leandro Vieira, ficaram impressionados com as crianças, pelo fato de elas saberem de cor o samba-enredo da agremiação”, destacou.

Vale lembrar que, neste ano, a Imperatriz Leopoldinense foi campeã do Carnaval carioca, após 22 anos. Isso fez com que as crianças também se sentissem vitoriosas e premiadas.

A diretora da UMEI Hermógenes Reis ressaltou que apoia integralmente o projeto das professoras, afirmando que é muito importante o contato com o Carnaval desde a infância, afinal, essa é a maior festa popular do nosso país.

“Infelizmente, ainda existe muito preconceito em relação a isso. Ao mesmo tempo que a Dayse pode desenvolver uma série de temas, tomando como base um samba-enredo, o carnaval acaba trabalhando também os lados cognitivo, social e afetivo da criança. Então, não é apenas pelo ritmo, mas também pelo conteúdo que apresenta a história por trás desse fenômeno cultural”, declarou.

O samba, além de ser elemento fundamental na educação, resgata a ancestralidade afro-brasileira e estimula uma educação antirracista, o que faz parte das diretrizes da educação nacional que, através da lei 10.639, tornou obrigatório o ensino na temática da história e cultura afro-brasileira nas escolas. As turmas aprendem sobre o ritmo, mas também sobre a importância dos quilombos, considerados locais de resistência da cultura negra.

Além da ancestralidade, o Samba também tem se tornado importante para a inclusão. Duas crianças com deficiência estão se adaptando melhor ao ambiente escolar graças ao trabalho com o samba-enredo da Portela. Segundo a professora Sônia Regina da Conceição – que assiste a essas duas crianças – a música tem ajudado no desenvolvimento e na socialização.

“Esse trabalho não é feito só por mim. As outras crianças têm ajudado seus amiguinhos a aprenderem a música, a cantarem. Então, não há só o meu apoio, existe a colaboração dos outros alunos, que estão cientes que as crianças com deficiência precisam da ajuda e incentivo da turma”, explicou.

Com projetos que incentivam a busca pelas raízes culturais do povo brasileiro, a Educação Niterói, por meio dos seus profissionais, segue traçando um caminho para uma educação pública de qualidade, valorizando a história, os povos, cultura e identidade.

Início – A professora Dayse de Góes, precursora do projeto, tem uma relação profunda com o samba. Integrante da Acadêmicos do Cubango, ela entrou para a escola para ajudar a mãe, que era membro da Ala das Baianas. Ao conviver com as senhoras e senhores do grupo, percebeu que eles tinham muita dificuldade para ler e escrever. Foi assim que uniu forças na comunidade para criar um projeto de alfabetização de adultos, e fazer com que eles tivessem mais orgulho de suas vidas e trajetórias.

Hoje, aos 55 anos, Dayse realiza o projeto dentro da unidade escolar e cursa pós-graduação em Samba pela Faculdade CENSUPEG, o que complementa de maneira transversal toda as abordagens que são propostas pelo currículo escolar.
Em seu campo de estudo, encontra-se a visualização, o exercício e a imersão, as potencialidades cênicas do carnaval. Além disso, o curso propõe-se a fazer um aprofundamento histórico nas referências das produções artísticas. E Dayse promete empolgada: “Ainda vou ser carnavalesca”!