Sem nunca ter pisado numa escola, Juvenal de Andrade, de 62 anos, tomou a decisão de estudar pela primeira vez em 2018. Eletricista, ele começou a trabalhar ainda muito jovem, o que o impediu de se dedicar aos estudos. Hoje, ele é um dos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Niterói, da Escola Municipal Helena Antipoff, em São Francisco, que se tornaram protagonistas de suas próprias histórias, através do livro “Histórias da Vida”, lançado nesta semana na unidade. Compilado de contos dos estudantes da EJA, a obra reúne 39 textos escritos pelos alunos, que relatam momentos marcantes das suas vidas.

A publicação, que está disponível na unidade, faz um passeio entre ocasiões engraçadas, inesperadas e inspiradoras, criadas pelos próprios estudantes. O livro foi lançado com uma festa e noite de autógrafos na escola. A ideia do projeto é fazer com que eles possam desenvolver a iniciativa e a autonomia na construção do conhecimento, estimulando a prática da linguagem oral e escrita.

“Gosto muito daqui, dos funcionários, dos professores. Eles respeitam a gente. Todos têm muita paciência e dão muita força para os alunos por causa da nossa idade. Gostei muito de escrever a história que está no livro. Aí eu penso: quem sabe um dia não escrevo uns versos, um poema ou um livro? Eu cheguei até aqui e sei que vou conseguir o meu objetivo”, declarou Juvenal.

O aposentado João Caetano Pereira, de 75 anos, como a maioria dos alunos matriculados na EJA, foi obrigado a interromper os estudos na antiga 3ª série para conseguir ingressar no mercado de trabalho.

“Eu sou de Carangola, Minas Gerais. Vim para Niterói e trabalhei até na construção da Ponte Rio-Niterói. Depois que me aposentei, fiz questão de voltar para a escola. Foi bom porque pude lembrar das coisas que tinha esquecido, e aprender outras que você nem imagina que existem. Presto muita atenção, sou o primeiro da fila, mas nunca passou pela minha cabeça escrever uma história para colocar no livro. É uma história de assombração, mas é verdadeira! Gosto muito de escrever”, contou.

O secretário municipal de Educação e presidente da Fundação Municipal de Educação, Bira Marques, ressaltou que a iniciativa colabora com o sentimento de pertencimento dos alunos à rede, incentivando a prática da escrita.

“A EJA é uma modalidade de ensino que tem suas particularidades e um valor social imensurável. É muito importante que esses alunos se enxerguem como rede e como protagonistas de suas vidas. Cada um tem sua história, seu caminho, e deve ser valorizado. Nós, enquanto educadores, temos o papel de buscar novos recursos que incentivem e elevem a alto estima, para que esses alunos permaneçam nas salas de aula e oportunizem novas perspectivas de vida”, disse o secretário.

A Diretora da EJA da Rede Municipal de Niterói, professora Greyce Kelly Almeida, elogiou a iniciativa por estimular o protagonismo dos alunos.

“Uma iniciativa como essa dá protagonismo aos alunos que, muitas vezes, se veem invisíveis. Esse apoio da escola é fundamental e se reflete na forma como os professores trabalham em sala”, celebrou.

A diretora da Escola Municipal Helena Antipoff, Roberta Graziani, fez questão de ressaltar o esforço dos alunos para frequentar as aulas.

“A EJA sempre foi um grupo que, por muitos anos, foi esquecido. A maioria teve que abandonar os estudos para trabalhar e ajudar no sustento de suas famílias, mas ninguém desistiu. Somos um grupo formado por pessoas fortes e estamos aqui para apreender uns com os outros cada vez mais”.

A Rede Municipal de Niterói conta com cerca de 900 alunos matriculados na EJA. A modalidade é oferecida em dez unidades. São elas: E.M. Alberto Francisco Torres (Centro), E.M. Professora Maria de Lourdes Barbosa Cantos (Fonseca), E.M. Paulo de Almeida Campos (Icaraí), E.M.Maestro Heitor Villa-Lobos (Ilha da Conceição), E.M. Honorina de Carvalho (Pendotiba), E.M. Altivo César (Barreto), E.M. João Brazil (Morro do Castro), E.M. Francisco Portugal Neves (Piratininga), E.M.Helena Antipoff (São Francisco) e UMEI Vale Feliz (Engenho do Mato). As matrículas podem ser feitas em qualquer época do ano, e os interessados devem comparecer na secretaria da unidade de sua preferência, no horário das 09h às 16h.

Foto: Cheila Pacetti